terça-feira, 16 de setembro de 2008

Rui Santos: Educativo




Entrevista
RUI SANTOS, JORNALISTA


O COMENTADOR ANTI-SISTEMA

Polémico, frontal, sem papas na língua. O seu maior desejo é continuar a analisar e a escrever em liberdade. Os adeptos e os “donos” da bola, sejam eles indefectíveis ou detractores do estilo, já não dispensam ouvir e ler os seus comentários na TV e nos jornais. Rui Santos, o comentador que ousa vergastar o «sistema», afirma que «a fraca credibilidade do futebol começa na fraca credibilidade do poder político», que o tráfico de influências é o maior problema do futebol e que a imprensa desportiva é um prolongamento do «aparelho clubístico». O rosto do «Tempo Extra», na SIC-Notícias, fala também sobre o País, considerando que Portugal está «bloqueado» e «cada vez mais perigoso» e que em termos de impulso reformista vivemos algures entre os reinos de D. João VI e D. Sebastião.

Quando o leitor tiver este jornal nas mãos, já se iniciou o campeonato. Pensa que o FC Porto parte melhor posicionado para conquistar o quarto título consecutivo? Que análise faz aos plantéis dos «grandes»?

O FC Porto apresenta-se sempre mais bem posicionado desde que alguns presidentes do Benfica, acolitados por outros dirigentes sem visão nem opinião, deram cabo de um capital imenso de credibilidade de uma das maiores marcas e referências de Portugal. Vale e Azevedo é o bode expiatório útil. Mas é, no mínimo, intrigante que, no presente, outros presidentes do passado sejam poupados pela “entourage” actual. O Benfica já estava em plano inclinado quando Vale chegou. O Benfica partiu sempre com a vantagem de ter uma massa adepta ímpar no contexto nacional (e até internacional), chegou a ter o maior estádio do País (um erro resultante da típica megalomania portuguesa) e os melhores jogadores portugueses. O que não teve? Alguém que, ao longo dos tempos, percebesse que os resultados, no futebol, não dependem apenas de magistérios de influências mas também de profissionalismo. O Benfica desgastou-se muito a combater magistérios de influência que foram seus, nunca encontrou forma de combater Pinto da Costa (porque quis copiá-lo) e perdeu-se na voragem de fazer e desfazer plantéis a qualquer preço. O FC Porto soube criar condições para “dominar” a conjuntura mas teve a ciência de, no futebol, impor um regime de profissionalismo que, nos últimos anos, conheceu hiatos, mas nunca fracturas comprometedoras.

O Sporting de Paulo Bento poderá ser um conjunto mais equilibrado?

O Sporting não se assume, gere. Num campeonato macrocéfalo como o nosso, isso às vezes chega para criar uma ideia de força. O Sporting tem o conceito exacto do ponto de vista da detecção dos talentos. Mas falha a seguir, na pós-formação, não apenas por razões financeiras. Tal como no Benfica, há um paradigma de falta de exigência impressionante.Quanto aos plantéis: Benfica melhorou, mas tem uma factura pesada do passado a pagar (uma equipa nova não se constrói com três cantigas); Sporting melhorou, porque soube alterar a sua concepção de jogo, eliminando um conjunto de jogadores que não eram solução para nada; o FC Porto manteve o molde, roubou o melhor jogador ao Benfica (inacreditável!), mas tem algumas questões em aberto. O plantel é bom.

Disse na apresentação do seu livro «Estádio de Choque» que «há muitas ilusões, enganos e mentiras à volta da indústria do futebol. Há que trabalhar para erradicar a batotice». Este «nosso» futebol precisa de um tratamento de choque?


Já não acredito em tratamentos de choque, simplesmente porque não vejo pessoas capazes de os protagonizar. A fraca credibilidade do futebol em Portugal começa na fraca credibilidade do poder político. Essa osmose é catastrófica para o País.

O ex-presidente do Sporting, Dias da Cunha, apontou o dedo a Pinto da Costa e a Valentim Loureiro, nomeando-os os «rostos do sistema». Os processos “Apito Dourado” e “Apito Final” deitam por terra esta teoria ou tudo vai continuar como dantes?

Todos aqueles que se insurgiram contra os “donos da bola” ou estão na prateleira, na reforma ou foram pura e simplesmente exterminados. Há, também, os enganadores. Os falsos reformistas. Apregoam que são a favor da mudança quando apenas defendem o seu torrão. Os deuses-diabos da vida. É certo: avançou-se alguma coisa, mas não o suficiente. Ainda estamos entre o D. João VI e o D. Sebastião. E não nos livramos da herança fascista. Há para aí uns “grandes democratas” que são piores que os bastiões da ditadura. Portugal precisa de uma grande referência no aparelho de Estado. Sócrates tem alguma sede reformista, mas, na sua aparente firmeza, precisaria de não nos fazer lembrar Alves dos Reis.Na minha juventude, porque vivi o 25 de Abril numa fase crucial do meu crescimento, acreditava no socialismo moderado. Continuo a acreditar na defesa de causas, mas acho que o modelo partidário cavou a sua própria sepultura. Estou muito decepcionado com o PS e com o próprio Bloco Central. A esquerda e a direita barafustam, dizem algumas verdades, nesse sentido têm um papel útil, mas os portugueses não gostam de correr riscos. O País está bloqueado.

Escreveu num artigo no «CM» que existe um «Corrupção Futebol Clube». É essa convicção generalizada, que afasta os adeptos das bancadas ou há outros factores, como o preço dos bilhetes e a falta de qualidade dos espectáculos, que tira espectadores dos recintos?

O tráfico de influências é o maior problema do futebol português e, porventura, do País. A falta de clareza e de verdade nos discursos. A clubite assustadora. A falta de cultura desportiva e democrática. E, claro, o fraco nível da nossa Liga, os bilhetes caríssimos e a sensação de insegurança.

Foi jornalista de «A Bola» durante 26 anos. Hoje, critica fortemente a subserviência do jornalismo desportivo aos «três» grandes, ignorando o lado «negro» do futebol. De que interesses está «refém» a imprensa especializada?

A imprensa desportiva é um prolongamento do “aparelho clubístico”. Ao partir do princípio que não sobrevive sem ele, acumulou erros sobre erros e deitou-se por baixo dele, prostituindo-se. Há ainda uns assomos de independência e ainda há quem pense que é a crítica independente que afasta os leitores. Não é. É a falta de trabalho, a investigação, a aposta em jornalistas sem tempo suficiente para adquirirem experiência no terreno. É, também, a precariedade do emprego e, sobretudo, as chefias que são preenchidas por comissionistas da ideologia clubística. O problema de alguns jornalistas desportivos nem é sequer a questão muito badalada de nunca terem dado um pontapé na bola (o argumento, nem sempre verdadeiro, dos ignorantes); é a falta de cultura geral.

Segundo consta abandonou, por vontade própria, o seu jornal de sempre, «A Bola», alegadamente por os seus artigos terem sido «censurados» por dirigentes de um grande clube. É verdade?

Os meus detractores puseram a correr a infâmia segundo a qual teria sido “expulso” de «A Bola». Como se isso fosse possível! Era accionista, estava há 26 anos no jornal que me formou e ao qual dei toda a minha disponibilidade e afectividade, mas confirmo que já não me identificava com a “política de favores” que a Direcção do jornal começou a pôr em prática, ao contrário do desígnio dos fundadores e dos jornalistas de referência. «A Bola» deixou de ser a «Bíblia» quando o sucessor de Carlos Miranda passou a fazer todo o tipo de favores aos clubes e a pôr em causa a liberdade de expressão. Saí porque amo a liberdade, mas saí quando quis e como quis. «A Bola» continua viva na minha memória e não confundo dois ou três comissionistas com a história e os verdadeiros heróis do jornal. Lamento muito que o Arga e Lima tenha consentido o que consentiu. E a saída de Maria Margarida Ribeiro dos Reis diz tudo sobre a degradação que tomou conta do jornal. «A Bola» está hoje como o Benfica – conservou o nome (marca) e sobrevive à conta dele. Artificialmente.
Citando o prof. Moniz Pereira, existe uma «monocultura futebolística», desenvolvida pelos mass media, que abafa todos os outros desportos e até acontecimentos de relevo. Concorda?Em absoluto. Teria propostas para contrariar essa situação, mas, hoje, longe das redacções, não tenho nada a ver com isso. Porque não vejo pessoas interessadas na mudança. Só quero escrever em liberdade. E escrever em liberdade pressupõe ter de suportar as pressões não apenas dos “homens do futebol” e da política mas também dos tais comissionistas (de serviço) da imprensa. Não é nada fácil.

Foi alvo de uma tentativa de agressão à saída da SIC, depois da sua participação no «Tempo Extra». Utilizando uma imagem da política, celebrizada por Jorge Coelho, pode-se dizer que quem se mete com os “donos da bola”, leva?

Vivemos num País cada vez mais perigoso. E de pessoas muito mal formadas. Quando fui agredido até puseram a correr o boato de que aquilo tinha sido uma encenação. Só eu sei o que passei e o que tive de fazer para garantir, de algum modo, a minha segurança e daqueles que me rodeiam. Choca-me que a mediocridade pessoal e profissional chegue a este ponto.

O seu programa é dos mais vistos do canal por cabo de Carnaxide. Analisando os moldes do «Tempo Extra» e de «As Escolhas de Marcelo», encontramos algumas semelhanças. Considera-se o prof. Marcelo Rebelo de Sousa do futebol?

Tenho alta consideração por Marcelo Rebelo de Sousa e acho-o de uma competência inquestionável. Infelizmente não o consigo ver nem ouvir como gostaria, por causa do meu trabalho. Penso que a admiração é mútua.

Assumiu-se como um dos maiores críticos da gestão Madaíl/Scolari. Contudo, a selecção fica para a história, como vice-campeã de Europa e 4ª classificada no mundial. Perante os factos, o novo seleccionador, Carlos Queiroz, recebe uma herança demasiado pesada?

Não concordei com o regresso de Carlos Queiroz à Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Penso que ele será o maior prejudicado. Calculo que os problemas com os quais se confrontou há quase 20 anos sejam praticamente os mesmos. Os tempos são outros, Queiroz está mais maduro, mas acabará por se sentir saturado de uma mentalidade que não muda. A porcaria é mais ou menos a mesma. Mas compreendo que, depois de tantos anos de emigração (forçada) sentisse vontade de regressar e fazer uma coisa que tanto gosta: treinar, escolher jogadores e apurar tácticas, ao mesmo tempo que olha para os problemas do futebol nacional. Irá perceber que o País não mudou e que mais valeria ter aguentado as nuvens negras e o frio de Manchester. E não terá o apoio que Scolari teve.

Acompanhou durante muito tempo as camadas jovens do nosso futebol, nomeadamente na era Queiroz/Vingada. A actual crise de títulos pode indiciar que o «viveiro» de grandes talentos, como Cristiano Ronaldo, Quaresma, Moutinho e Nani, entre outros, está em risco de se esgotar?

Sim. Porque ninguém se preocupou com a continuidade de um “programa de desenvolvimento” que assegurou durante cerca de 15 anos alguma credibilidade à Selecção Nacional. Queiroz criou a “geração de ouro” e os que lhe seguiram não tiveram capacidade para manter as rotinas e os métodos. Podemos cair, a prazo, no vazio. Scolari foi um dos maiores inimigos do desenvolvimento sustentado. Ajudou a demolir o “edifício das Selecções”, ao não evidenciar qualquer tipo de preocupação com as selecções mais jovens.


Segundo várias organizações internacionais, o sistema de ensino português continua altamente deficitário em termos de resultados. A Educação está ao nível do futebol indígena, paupérrima e sem futuro?


Acredito na Escola como um complemento da Educação. Sem Educação a Escola é praticamente inútil.
Ministério da Educação, professores, alunos e encarregados de educação, são os principais agentes de um sistema burocrático e, não raro, envolto em convulsões, como se viu recentemente com a contestação da classe docente. Qual a receita para pôr estes protagonistas a remar para o mesmo lado?Uma revolução cultural e de mentalidades. O foco deve ser colocado sobre os alunos na melhoria dos resultados daqueles que representam o futuro do País.

Na coluna «Semiópticas» no «CM», efectua, frequentemente, incursões na análise política. Recentemente escreveu que «o sistema político protege os políticos e não as pessoas». Para mudar este sistema é preciso mudar a cultura partidária instalada?

Já respondi: os partidos esgotaram-se na convicção de que o povo pode ser permanentemente manipulado. Não é assim. Há cada vez mais universitários nas caixas dos supermercados.


Nuno Dias da Silva

Entrevista publicada em Ensino Magazine

De regresso


Depois de concluídas as obras neste blogue e as manobras em férias,
Todo-o-mundo regressa para mais reflexões e debate.
A vida continua!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Respostas de Umberto Eco aos leitores da TIME


A revista VISÃO desta semana traz no seu 'radar entrevista' parte das respostas de Umberto Eco a uma série de perguntas colocadas pelos leitores da revista TIME. À questão 'estaremos a desvalorizar as opiniões dos peritos, ao apoiarmo-nos demasiado na Wikipedia ou em blogs?', o escritor respondeu da seguinte forma: 'De certo modo, sim. A Internet continua a ser uma arma perigosa. Tanto pode servir para nossa defesa como rebentar-nos nas mãos e causar tragédias'.
Segundo Negroponte ,vivemos num mundo que se tornou digital. Creio que é impossível fugir a essa rotina, com prejuizo de desfazamento da realidade. O mais importante é ter capacidade para aproveitar ao máximo as potencialidades desse universo em prol das várias vertentes da existência humana. Quando for possível aceder via Internet a todas as opiniões de especialistas será tudo ainda mais fácil. Até lá, para trabalhos de rigor científico, o conhecimento dos peritos nas várias áreas pode ler-se em papel. Ainda bem!

domingo, 2 de dezembro de 2007

Revisitar 'Os Sopranos'

A série televisiva 'Os Sopranos' chega ao fim. Infelizmente, o último episódio será emitido na próxima segunda-feira, pelas 22h40, na RTP 2. Para os amantes desta série de mafiosos que, ao longo de oito anos, arrecadou 76 prémios incluindo 3 Globos de Ouro e 21 Emmys, abre-se outra oportunidade de espreitar e até experenciar, aquilo que foi a vida desta 'família', imortalizada na figura de Tony Soprano.
Depois de seis temporadas desta série de culto, a 'On Location Tours' (http://www.screentours.com/) sugere uma ronda entre Nova York e New Jersey por mais de quatro dezenas de locais por onde andaram os protagonistas desta série, e por apenas 27,42 euros, em autocarro turístico. Podem ver-se locais como: o espaço onde Big Pussy (Vincent Pastore) conversou com agentes do FBI, o restaurante Skyway Diner onde Chris (Michael Imperioli) foi alvejdo, e, como é óbvio, o local da última cena da série com Tony Soprano....
Se não quer perder esta oportunidade, visite o site da screentours e marque já a sua vez numa fila que parece estar longa.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

'PowerPoint Is Evil' e 'PowerPoint Makes You Dumb'


-Comentário

O PowerPoint é uma ferramenta informática que, quando foi criada pela Microsoft, tinha o objectivo de facilitar a compreensão dos conteúdos numa qualquer apresentação sobre os mais variados temas.
A utilização deste programa tem suscitado os mais diversos comentários do ponto de vista da sua eficácia.
O professor de comunicação, Edward Tufte, escreveu um texto 'PowerPoint is Evil', no qual se revela muito crítico em relação às potencialidades desta ferramenta. O 'PowerPoint' pode criar dependência malévola e Tufte serve-se metaforicamente do efeito das drogas para estabelecer a analogia com a utilização (abusiva) do programa. Eis a ideia, descodificada, do professor: imagine a prescrição de um medicamento que supostamente é 'vendido' para operar milagres. Mal e recorrentemente utilizado, em vez de produzir efeitos positivos, acaba por se tornar pernicioso.
Tufte chama a atenção não apenas para o seu 'consumo' generalizado mas também para a banalização do uso do PowerPoint e refere que a forma gráfica (layout) incorre no perigo de secundarizar os conteúdos. No passado, as apresentações eram realizadas com o apoio de retroprojectores, de uma forma mais simples e menos densa. Muitas vezes, os oradores socorrem-se do PowerPoint para 'embrulhar' as suas comunicações, escondendo as insuficiências dos discursos. É como se se embrulhasse com um papel muito bonito e vistoso uma caixa quase vazia.
Tufte é também muito crítico em relação ao poder que o PowerPoint exerce nas escolas. No fundo, o programa provoca um efeito dissuasor da leitura e da escrita, algo que não se pode nem deve dispensar na comunicação. A simplificação das apresentações pode constituir-se numa mais-valia para o orador, se este estiver preparado para passar toda a mensagem que pretende -- e não apenas uma parte.
Evitar a contradição segundo a qual a utilização de muitas palavras pode causar dispersão na audiência mas o inverso pode gerar, igualmente, a fraca percepção dos conteúdos apresentados é a 'chave' para o sucesso do PowerPoint.
Tufte sublinha o contraste que se pode estabelecer na utilização de tabelas gráficas para explicar uma temática. Socorre-se do exemplo de um estudo sobre o cancro para distinguir a boa da má utilização. A 'imagem' pode ser muito interessante, mas se os dados não forem introduzidos correctamente as conclusões podem ser desvirtuadas e isso é algo que o PowerPoint não deveria promover. As cores e o 'belo' dos grafismos não podem, em circunstância alguma, servir de manipulação dos dados que se têm para usar. A mensagem tem de ser clara, rigorosa e directa. De simples compreensão. Se for confusa, através do excesso de cores ou gráficos, isso pode causar impacto visual mas certamente é inibidor do entendimento da mensagem que se pretende passar. Para o professor de Yale, o PowerPoint pode ser utilizado eficazmente, consagrando o princípio do respeito integral pela audiência.
No artigo publicado, em Dezembro de 2003, no New York Times Magazine, Clive Thompson considera que o PowerPoint pode gerar a 'imbecilidade' entre as pessoas 'PowerPoint makes you dumb'. Dá o exemplo da leitura de um relatório apresentado pela NASA, relativamente às causas de um desastre ocorrido com um vaivém espacial, concluindo que o acidente se deveu não apenas a falhas de natureza técnica, mas também a erros cometidos pelos engenheiros através da má utilização do PowerPoint. Para Thompson, como se pode inferir, este 'software', utilizado indevidamente, é perigoso ao ponto de desencadear situações de altíssimo risco. A mais popular ferramenta de apresentação de comunicações conhecida do mundo, com cerca de 400 milhões de cópias em circulação, coloca a Thompson uma questão incontornável: 'E se o PowerPoint nos estiver a estupidificar?'
Obviamente, representantes oficiais da Microsoft, como Simon Marks, apresentam teses contrárias e criticam as abordagens de Edward Tufte ( a quem acusa de ser um adepto fervoroso da 'information density') e Clive Thompson. Argumenta que esta ferramenta vem sendo adoptada, inclusive, nas altas esferas do poder, dando como exemplo a importância que Collin Powell lhe atribuiu junto das Nações Unidas, a propósito da utilização de armas de destruição maciça pelo Iraque.
Curiosamente, porventura sem se aperceber, Simon Marks acaba por atestar a tese de Tufte, segundo a qual o PowerPoint pode servir os interesses de quem não tem nada para dizer. Com efeito, ao não se ter confirmado a informação segundo a qual o Iraque estava na posse de armas de destruição maciça, talvez se possa inferir que Collin Powell terá utilizado o PowerPoint indevidamente, 'embrulhando' uma informação importante que se viria a revelar totalmente errónea. Com graves repercussões a nível mundial. Quase apetece dizer que o PowerPoint foi a arma de destruição maciça que Collin Powell utilizou para sustentar a intervenção dos Estados Unidos no Iraque e as teses da Casa Branca.
Considerando todas as ideias desenvolvidas por Tufte, Thompson e Marks, é legítimo concluir-se que o PowerPoint é uma ferramenta que pode ser simultaneamente construtiva e destrutiva. Depende da forma como é utilizada.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

A Dança de Palavras de Murakami

Haruki Murakami está de volta a Portugal com o livro 'Dança, Dança, Dança'.
Um regresso à história de 'Carneiro Selvagem' que, apesar de poder ser lida isoladamente em relação às outras obras do escritor, será uma mais-valia na perspectiva de comunhão das duas leituras. Murakami, nas 473 páginas do livro, coloca o leitor na pauta de uma dança que o transporta a Tóquio, descrita de forma profunda.
São abordados temas como a solidão e o amor.
O primeiro parágrafo condensa todo o argumento na seguinte expressão: 'Passo a vida a sonhar com o Hotel Golfinho'. Este é o ponto de partida do protagonista até à cidade de Sapporo, onde procura encontrar razão para os sonhos que o perseguem, encarnados na figura da mulher que o abandonou.
Os universos do escritor revelam-se inesgotáveis ao virar de cada página, e continuam a surpreender aqueles que habituou a uma escrita rica em imagens e metáforas. As personagens passeiam-se pelo mundo do fantástico, de matriz kafkiana, muito ao jeito de Murakami.
A salientar o facto deste livro, chegado agora a Portugal, ser datado de 1988, permanecendo muito actual na percepção de uma sociedade pautada por valores ligados ao poder, dinheiro e fama.
A primeira abordagem de Haruki Murakami à língua de Camões deu-se com 'Norwegian Wood'; seguiu-se o maravilhoso 'Kafka À Beira-Mar', e, depois, grandes sucessos como: 'Crónica do Pássaro de Corda','Sputnik, Meu Amor'(imperdivél)e 'Em Busca do Carneiro Selvagem'. Todos os títulos são um convite à leitura de um dos maiores escritores contemporâneos. A não perder.

domingo, 18 de novembro de 2007

Blogosfera Portuguesa em Actividade

A quarta edição dos prémios ´The Beste of Blogs' já tem vencedor: chama-se Foto-Griffoneurei e a sua autora é Xenia Avimova, jornalista na Bielorrússia, de apenas 23 anos. O blogue divulga fotos a preto e branco de Minsk, onde existem poucos meios independentes para divulgar opinião. O júri formado por 15 bloguistas e especialista em comunicação de vários países considerou este blogue vencedor, porque 'reproduz fielmente as impressões e perspectivas da autora, cumprindo assim a principal tarefa de um weblog'. De acordo com a agência Lusa, este evento, que distingue projectos na Internet, recebeu cerca de sete mil candiaduras, sendo setenta e nove de origem portuguesa. Num país com (aproximadamente) 11 milhões de habitantes, no qual somente navega na Internet 30% da população que tem acesso a computadores, aquele número de candidadaturas constitui um dado relevante. A blogosfera nacional não foi (ainda) premiada, mas apresenta vitalidade. É um sinal que os tempos do virtual estão a cativar os portugueses.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Texto de David Weinberg 'What the Web is For'


-Comentário

Qual a relação que os indivíduos estabelecem com a tecnologia? Eis a questão a que David Weinberger procura responder em 'What the Web is for?'.
O autor apresenta uma ideia dicotómica entre o 'mundo físico' e a Web, a qual possibilita 'uma nova forma de estar ligados'. Para fundamentar este paradigma são apresentados vários exemplos: e-mails,´chats' e 'messenger'. Salienta também o facto de 'nada ter provocado tanta agitação como o aparecimento da Internet'.
Este pensamento tem eco em Manuel Castells ao defender que '...no final do século XX, vivemos um desses raros períodos da história...' E porquê? É 'um período caracterizado pela transformação da nossa cultura material operada por um novo paradigma organizado em torno das tecnologias da informação'.
O professor de filosofia, David Wienberg, aborda o tema da interacção dos indivíduos e revela outra característica positivista ao mencionar que este meio de comunicação promotor de mudança pode transformar o ser em melhor humano. A Web cria aproximação ao contrário do que acontece no 'mundo físico', que apresenta complexas barreiras físicas e sociais a promover esse afastamento. O autor defende ainda que 'os indivíduos são entendidos como tal, devido ao facto de se interligarem' e a Web permite isso mesmo, aproximando os seres humanos, tornando-os melhores, através da partilha de gostos e afinidades. É um passo de gigante em direcção à modernidade, uma vez que, antigamente, a aproximação entre os indivíduos estabelecia-se, limitadamente, através dos telefones, substituídos massivamente pelos telemóveis, símbolos importantes de portabilidade. Para Dominique Wolton, basta observar a escravidão que já constitui o telefone móvel para compreender a alienação do estar em 'rede'. Weinberg reconhece que as tecnologias vieram alterar as sociedades, mas o que havia no passado continua a existir. Defende a Internet como ponto de encontro de interesses, sendo esses mesmo interesses o ponto de ligação ao contrário do 'mundo físico', no qual, as barreiras físicas limitam o contacto. Com esta exposição entende-se a sua 'Abordagem Interactivista', mostrando uma vez mais proximidade de pensamento a Manuel Castells, defensor desta corrente ideológica entre os anos noventa e o começo do século XX. Quais os pressupostos da Abordagem Interactivista? A tecnologia acha-se como causa e consequência. Não faz sentido, por isso, a pergunta quem transforma o quê? Não faz sentido perguntar se a tecnologia transforma a sociedade do Determinismo Tecnológico de Dominique Wolton, ou se é a sociedade a desencadear a eclosão da tecnologia -- o chamado Construtivismo, corrente de pensamento desenvolvida entre os anos 70 e 80. Manuel Castells advoga que existe é uma relação gradativa e dialéctica entre sociedade e tecnologia ('É claro que a tecnologia não determina a sociedade, nem a sociedade escreve o curso da transformação tecnológica'), alertando para o facto das funções atribuídas à rede virtual, não como um meio de substituição, mas como outro modo de acesso ('as comunidades virtuais não têm de ser opostas às comunidades físicas:são diferentes(...) com regras e dinâmicas específicas...').
A Web é um sistema de comunicação, mas é também um potente instrumento de informação, que para o escritor 'fornece mais uma alternativa'. O investigador Derrick de Kerckhove também apologista desta corrente salienta no seu livro A pele da Cultura que, 'no caso da utilização da rede, o utilizador procura a informação que mais lhe interessa'. O fundamental para esta teoria que estabelece uma ponte entre o Determinismo Tecnológico e o Construtivismo é ter acesso e poder interagir. E para ter impacto é necessário democratizar a massificação através do envolvimento do maior número de indivíduos para que se desenvolva. Pelo contrário, Dominique Wolton apresenta resistências à mudança ao defender que 'não há nada de mais perigoso' do que atribuir-se à Web um grande poder de 'aproximação entre os homens'. Não aceita a influência da tecnologia na sociedade.
Em síntese, a tese defendida por Kranzberg, também partilhada por Manuel Castells, segundo a qual 'a tecnologia não é boa nem é má, mas também não é neutra' assenta no princípio de que o sistema é virtuoso mas está dependente da natureza da sua utilização. A sociedade tem de estar preparada e dar respostas a esta forma de organização social.
Quem não apanhar o 'comboio do progresso' ficará apeado e terá muitas dificuldades em acompanhar o ritmo deste mundo (físico e virtual) em permanente mutação. Basta atentar no discurso do actual primeiro-ministro, José Sócrates, que coloca as 'novas tecnologias' na primeira linha das suas intervenções. Há uma diferença, contudo, entre os processos de intenção e a realidade, porque em muitos lugares do País não há sequer computadores quanto mais hábitos de intercomunicação através da Rede.

domingo, 11 de novembro de 2007

As vendas na Rede


Os números da Associação do Comércio Electónico de Portugal (ACEP) anunciam que, em 2006, um milhão de portugueses fizeram compras online. Estes números não são muito animadores e representam todos aqueles que fizeram pelo menos uma compra pela Internet no decorrer do ano passado. A situação , contudo, parece ter evoluído: nos dados de um estudo encomendado pela Associação, em 2001, pode ler-se que não passavam de 176 mil os internautas contabilizados. Os dados divulgados pelo gabinete da estatísticas da Comissão Europeia, Eurostat, demonstram que, no total, cinco por cento dos portugueses com idades compreendidas entre os 16 e os 74 anos realizaram, no mínimo, uma compra no espaço de três meses, a partir de casa e para uso privado, com recurso à rede. No ranking europeu, a realidade portuguesa surge num modesto 15.º lugar ao nível da Itália, do Chipre e da Hungria. Os noruegueses ocupam o primeiro lugar (47 por cento) seguidos pelos suecos, ingleses e alemães. Para se perceber esta realidade basta olhar para os dados da consultora IDC, recolhidos no âmbito de um estudo realizado para a Associação, para se perceber que só cerca de 40 por cento das famílias portuguesas estão ligadas à Internet e somente um terço dos agregados tem acesso à banda larga.

A utilização da rede ainda não está enraizada na cultura portuguesa, apesar de se encontrar infiltrada, como se pode verificar, por exemplo, pelo número crescente de blogues que aparecem. A familiarização com novos mundos é sempre um passo de gigante para os portugueses que viveram um momento histórico muito longo, fechados numa ditadura que lhes roubou alguma capacidade de iniciativa. Aquilo a que José Gil chama 'o país da não inscrição' e onde ainda, volvidos tantos anos, é tão difícil inscrever algo novo.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

The Final Cut - A Invasão da Privacidade

- Comentário

Num primeiro momento da vida, os progenitores determinam o legado da memória dos filhos, ao mandar colocar um 'microchip' no seu cérebro, que guardará para sempre as suas vivências, como se estivesse instalada dentro da cabeça uma câmara de filmar, que grava todos os frames dessa existência para, depois do 'último momento', serem editadas de acordo com a imagem que se pretende projectar, dos tempos vividos por esse indivíduo, na hora da despedida perante uma plateia que enaltece o editor por compilar de forma tão positiva esses instantes.
O filme, «The Final Cut», leva-nos a viajar pelos universos da invasão de privacidade, importância das tecnologias de informação no relacionamento inter-pessoal, evolução da ciência e resultados da influência da imortalização do ser humano através da imagem. A montagem das memórias pessoais, através da escolha de momentos felizes, e postura socialmente correcta, serve de absolvição social. A imagem que fica para sempre é idealizada por um editor (Robin Williams), no sentido de perpetuar vidas repletas de (falsa) felicidade. Porém, o 'delete' da guilhotina não alcança a mente daqueles que, directamente, sofreram com esses actos. O editor que carrega uma culpa do passado, ao descobrir-se 'chipado' , tenta a todo o custo tirar dúvidas que o atormentam, em relação a um acontecimento de infância. Quando está a trabalhar na última edição, desencadeia-se uma série de acontecimentos que resultam na sua morte.
A implementação desta tecnologia (no futuro) não ajudaria no tratamento de sentimentos de culpa, e pelo menos até aos 21 anos -- idade a partir da qual o indivíduo passa a ter conhecimento que vive com um chip dentro da sua cabeça -- toda a vivência decorreria do mesmo modo. A questão reside na legitimidade deste processo e nas várias invasões de privacidade que suscitam. A escolha dos pais e a posterior escolha do editor. Será aceitável os pais decidirem pelos filhos, algo que pode alterar completamente a forma de estar, ser e viver de um indivíduo? Um dos grandes legados do ser humano é o relacionamento e comportamento com outros que, independentemente de passarem por uma compilação de memórias num determinado sentido, viverão para sempre no interior daqueles com os quais estebelecem relacionamentos. Exemplo disso é a menina a quem tentam convencer da honorabilidade do pai e não é essa a imagem que guarda desse homem. Ainda relacionado com as questões éticas da privacidade, surge desde o início do filme a ideia do simples 'direito de não ser lembrado'. Afinal, existe ou não o direito de não querer ser lembrado após a morte? O ser humano é como uma borboleta que bate as suas asas numa cadência sempre desigual. A interacção dos indivíduos corresponde a diferentes tipos de dinâmicas comportamentais desenvolvidas durante a vida e ninguém será recordado da mesma maneira. O direito à individualidade deve ser mantido -- e não imposto.
A 'falta de privacidade' dos 'visionados' que têm o direito de não ser filmados e os tipos de relacionamentos desenvolvidos poderiam sofrer alterações, de acordo com a (não) implantação do 'microchip'. Os comportamentos deixariam de ter um carácter espontanêo e assim se perderia uma das maiores riquezas do ser humano. Tudo pensado. As sociedades passariam a ser estados policiais. Tudo controlado. A revolta contra esta prática surge no filme através de um grupo 'anti-Zoe' e dos seus protestos em cartazes com a seguinte mesagem: 'remember yourself', com a qual reivindicam o direito a não ser lembrado depois do corte final. As tatuagens que apresentam são uma forma de reivindicação, que os torna excluídos de uma sociedade onde esta acção é comum.
(Realizador: Omar Naim)

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Nascimento da Comunidade Virtual


-Considerações

Após criação do blog, a construção da comunidade virtual tratou-se de uma experiência muito interessante porque permitiu reunir um conjunto de individuos num mundo paralelo ao físico, sem a dificuldade subjacente à marcação de encontros reais para debater uma qualquer temática. Não é de hoje a dificuldade em definir o conceito de comunidade. Em primeira análise, parece ser o conjunto daqueles que partilham ou têm algo em comum (crenças, gostos, interesses, ideologias), mas, para além disso, vive da realidade simbólica atribuida pelas emoções do(s) seu(s) criador(es). É um espaço de interacção. Esclarecem-se dúvidas, trocam-se opiniões. Apesar da escolha do tema ter recaído sobre um problema comum a todas as sociedades, não foi possível mobilizar muitos indivíduos. A sensação que se colhe é a de que cada vez é mais difícil a mobilização de pessoas para questões de natureza social, como a pobreza. Talvez a culpa sejadeste tempo em que vivemos. Percebi que o tema pobreza não disperta interesse. A (i)mobilização foi a grande dificuldade encontrada. Estamos sempre dependentes das necessidades básicas que o mundo físico nos oferece, mas temos outros níveis de necessidades (realização e pertença) que podem ser fornecidas pelas comunidades virtuais. Pela fraca adesão da comunidade estudantil académica a esta comunidade virtual- Stopobreza- percebi que este tema não se traduz nem em realização nem em pertença. A missão foi cumprida. Mobilizei-me na concepção da comunidade virtual e tentei promover o debate junto daqueles que se me juntaram na troca de opiniões e ideias sobre o assunto. Se o prazo de validade da comunidade não estivesse a expirar continuaria a investir na sua construção em busca de novos membros interessados na minha causa.

domingo, 28 de outubro de 2007

Quanto pesa o seu QI?

Quanto pesa o QI (Quoficiente de Inteligência) do Nobel, James Watson? Pela descoberta de que a molécula de ADN é uma dupla hélice, em 1953, parece que o QI pesa muito.
As suas últimas considerações ao jornal britânico The Sunday Times sobre o futuro de África e a inteligência dos negros, levanta grandes interrogações, as quais se resumem num dos seus pensamentos: ' Todas as políticas sociais se baseiam no facto de a inteligência deles ser igual à nossa, quando todas as provas mostram que não é bem assim'. Salienta o desejo de iguladade entre os seres humanos, mas justifica essa improbabilidade dizendo algo com pouca sustentação científica: ' as pessoas que têm de lidar com empregados negros sabem que isso não é verdade'. Creio que algum tipo de constrangimento vem toldando o pensamento de tão ilustre cientista, uma vez que a mesma biologia em que se apoia, já demonstrou como a massa de que é feita o ser humano é igual em todo o Mundo.
A descoberta da descodificação do genoma humano, em 2001, fez cair por terra o conceito de raça. Esta não é a primeira intervenção preconceituosa do homem que é um dos principais 'elos' de um passo gigante na ciência. No passado, já disse coisas semelhantes sobre as mulheres, os homossexuais (advogou que as mulheres em presença de um teste que demostrasse a homossexualidade de um filho deveriam abortar) e os obesos (' quando entrevistamos uma pessoas gordas, sentimo-nos mal, porque sabemos que não as vamos contratar').
Como defendo a liberdade de opinião, aliás, um direito democrático consagrado constitucionalmente, estes preconceitos fazem ecos de uma realidade que a Humanidade quer apagar da sua memória colectiva. As tentativas de discriminação e até de exterminação não podem ser observadas como 'factos normais' simplesmente porque foram acontecimentos que marcaram a História.
A conclusão de que os negros são menos inteligentes é contestada por um conjunto de cientistas de renome, o que prova que, até na ciência o debate constitui uma porta aberta para e evolução do ser humano. Certezas nesta matéria seriam redutoras para quem acha que a cor da pele não deve estabelecer a diferença, nem pela positiva, nem pela negativa.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Como Enriquecer pela Internet

Alcançar a riqueza aljemada por (quase) todos parece ser tão fácil de conseguir. Para isso bastam três horas a ler o livro de Joel Greenblatt. Em ' Invista e Fique Rico' a fórmula aparece simplificada e está relacionada com cálculos obtidos através da prévia selecção de boas empresas a preços baratos.
Para passar da teoria à prática gasta-se o tempo de um clic- existe um sítio na Internet com o mesmo nome, onde pode aplicar-se imediatamente a fórmula mágica.
A mais valia deste livro é o de ter uma linguagem acessível a todo-o-mundo, mesmo que a dialéctica económica não seja totalmente perceptivel ao comum dos cidadãos.
O sentido de humor que se acha no livro é um exemplo a seguir. E ficar rico a jogar na Bolsa como o escritor do 'best-seller' 'You Can Be a Stock Market Genious', afinal não parece assim tão difícil.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Ela(s) e as letras

A família disfuncional irlandesa da escritora Anne Enright vence o Man Booker Prize 2007. Na corrida ao mais importante prémio literário para autores de língua inglesa encontravam-se seis romances. É factual, sem qualquer conotação sexista: os três favoritos foram consequência da criação literária de homens e os restantes de mulheres. De acordo com o ranking da casa de apostas online, Ladbrokes, o maior número de apostas colocava o romance de Ian McEwal, Na praia de Chesil, como o preferido, ao lado de Lloyd Jones com o seu Mr. Pip (provável vitória de dois para um). Logo a seguir, a escolha recaía sobre O Fundamentalista Relutante de Moshin Hamid, escritor paquistanês de apenas 36 anos (probabilidade de quatro para um). A senhora que se seguiu foi Nicola Barker e, por último, Indra Sinha com Animal`s People e The Gathering, de Anne Enright (probabilidade de doze para um). Nesta escolha, a última foi a primeira para o júri seleccionado anualmente por uma comissão de aconselhamento da Booker Prize Foundation. O presidente do júri, Howard Davies, considerou o final do livro brilhante, acrescentando que as últimas frases encontram-se entre as melhores que já leu. O quarto romance de Anne Enrigh trouxe-lhe o doce sabor de vencer o prestigiado Booker.
Este é um ano de literatura assinada no feminino.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O Prémio de Doris

Uma das (quase) eternas candidatas ao Prémio Nobel da Literatura arrebatou este ano a distinção para juntar a uma vasta lista de outros prémios. Poderia não sobrar muito mais tempo para a escritora com 88 anos e mais de cinquenta títulos publicados. Essa seria a suprema injustiça. É a décima primeira mulher a ser agraciada com o prémio em cento e seis anos de história do prémio da Academia Sueca. Em quatro anos, os géneros empatam. Dois no masculino e dois no feminino. Talvez tenham a intenção de dizer ao Mundo que fizeram uma grande descoberta: as mulheres também escrevem. A proporcionalidade de prémios entre sexos corresponde a uma conta de aritmética. Muito mais fácil do que calcular seis por cento do PIB, e assim para uma aproximação seriam precisos mais 95 anos de prémios atribuidos exclusivamente a mulheres. Virginia Wolf, considerada uma das mais importantes escritoras inglesas, não teve tanta sorte. O mesmo sucedeu a Marguerite Yourcenar ou a outras excepcionais escritoras Ccomo as portuguesas Sofia de Mello Andersen ou Agustina Bessa Luís.

sábado, 13 de outubro de 2007

Um Nobel Nada Inconveniente

Al Gore, o rosto mais mediático, defensor do ambiente, arrecada o Prémio Nobel da Paz pelo esforço realizado na divulgação dos riscos do aquecimento global. Para surpresa de uns e resignação de outros, o ambiente está para durar na agenda setting da politica internacional com a atribuição do prémio ao Vice- Presidente da Administração Clinton. No seu filme, Uma Verdade Inconveniente, trouxe à tona da vida quotidiana um assunto cuja discussão foi adiada durante anos. Quando se deu o sinal de alerta face ao aumento do buraco do ozono, poderosos políticos subestimaram a importância de um buraco que, afinal, se considerava estar tão longe da Terra. O ambiente não era tema de discussão. Finalmente, foi aprovado, em 1997, o Protocolo de Quioto. Iniciou-se assim um novo tempo de (suposta) preocupação ambiental. Num processo permanentemente instável, com opiniões divergentes entre a Europa e os Estados Unidos, chega o ano de 2001, no qual um dos maiores poluidores do Mundo recusa negociar a implementação do protocolo. Outros valores se elevaram.. A economia tinha de prevalecer sobre tudo o resto. A Verdade Inconveniente é que o globo terrestre continua a aquecer e tem castigado, com muitos estragos, o país do maior inimigo do ambiente. Of course. Mas não só. Influentes políticos pertencentes às administrações Bush (pai e filho) riram-se quando, em 1992, Gore atestou no seu primeiro livro que 'o salvamento do ambiente tem de ser o princípio fundamental da civilização'. Com a atribuição deste prémio ao democrata, a comunidade norueguesa vem despertar todo-o-Mundo para esta ideia.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Questões da aula

O que é para si interactividade?

A interactividade define-nos como espécie. Para existir definição do indivíduo como ser humano a nível psicológico é necessário que haja interacção com outro indivíduo.
No mundo digital, pode entnder-se como o intercâmbio do indivíduo com o computador.

Que esforço, comparado com outros tipos de comunicação, pensa que a comunicação digital requer?
Existem diferentes variáveis que contribuem para um maior ou menor esforço no manuseamento da comunicação digital. É um teorema que depende do utilizador (idade, meio geográfico e meio social); suporte utilizado (complexidade dos meios). Exige competências técnicas e cognitivas que permitem filtragem da informação. Depende também do produtor (capacidade de desmultiplicação para vários públicos-alvo traz um acréscimo de esforço). Por outro lado é mais rápido, mais cómodo e implica menos esforço.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Texto de Steve Johnson: 'Tudo o que é mau faz bem'

-Comentário
Como medimos a realidade observada na sequência da leitura do texto de Steve Johnson, Tudo o que é mau faz bem ? A questão aqui suscitada indica um novo barómetro como proposta de um olhar livre de preconceitos. Se estamos habituados a medir a realidade com certo tipo de instrumentos, é chegado o tempo de utilizar outros mecanismos para consumar essa avaliação. O autor propõe não utilizar os velhos barómetros para aferir as tecnologias filhas desta época. As avaliações que fazemos são condicionadas pela história individual (educação, meio social, cultura, entre outros) e da humanidade. Estes são os dois pontos que explicam os olhares reprovadores sobre a utilização destas tecnologias. Para reforçar a sua abordagem, o autor serve-se das palavras de McLuan: 'o problema de julgar novos sistemas culturais em si mesmos é que a presença do passado recente influencia inevitavelmente a nossa visão'.
É o indivíduo a definir o meio ou é o meio a definir o indivíduo? O ser humano é, afinal, o resultado da soma dos vários meios; o conjunto de impactos que se lhes afigura. O escritor observa as características desse meio como uma mensagem. Basta atentar que um desses meios estabelece um espectador passivo (TV) e o outro gera um espectador activo (Internet). Por outras palavras: pode estar a ser transmitido simultaneamente o mesmo tipo de produto na televisão e na Internet - e a interacção é, objectivamente, diferente. O meio, nas suas diferentes formas, não surge do nada, é sempre uma reinvenção de outro meio. Para melhor compreensão pode-se utilizar o exemplo do telégrafo (do grego, escrever à distância) no seu tempo - a Internet do século XXI. Tudo o que é novo é velho. A permanente modernização das tecnologias fazem com que cada descoberta seja ultrapassada rapidamente por uma nova descoberta. Os exemplos dos gadgets são paradigmáticos. Hoje sai um modelo aparentemente com todas as componentes tecnológicas capazes de servir os utilizadores. No dia seguinte, esse objecto pode parecer ultrapassado. É a velocidade imposta pela reinvenção das novas tecnologias, o que corresponde à evolução das actuais sociedades.
Nas Leis da Tecnologia, Krowzerg argumentou que 'tecnologias não são boas, nem são más, mas também não são neutras'. E porquê? Porque causam impactos no indivíduo. Não se trata de uma avaliação qualitativa, mas da interferência operada no quotidiano de cada um. Na sua reflexão, Jonhson chama a atenção para um dado interessante: 'aquilo que quase nunca ouvimos nas descrições das principais publicações, é que os jogos são terrivelmente, às vezes loucamente, difíceis'. O meio atrai um conjunto de características que permitem aperfeiçõar múltiplos saberes. Perde-se competências, mas ganha-se outras - como a interacção em massa. No século XXI são necessárias novas competências porque elas estão presentes em permanência nas sociedades. É importante acompanhá-las, sob o risco de se perder o comboio do progresso, e para isso é preciso desligar a corrente das condicionantes questões históricas. Ao privar-se as crianças da conquista destas novas competências, adquiridas, por exemplo, com os jogos, está-se a perder uma oportunidade de as deixar aguçar os sentidos. Há espaço para os jogos e para a literatura. É imperativo saber administrá-lo.

domingo, 7 de outubro de 2007

Philip Roth

A propósito de Philip Roth seguem-se algumas considerações: criador de uma série de obras-primas da literatura moderna, destaca-se em 1997 com a Pastoral Americana, através da qual ganha o Prémio Pulitzer. Nos anos seguintes arrecada outros prémios. Em 2005,A Conspiração contra a América recebeu o prémio da Sociedade de Historiadores Americanos e foi nomeado como Melhor Livro do Ano pela New York Times Boook Review, San Francisco Chronicle, Times, Newsweek e muitas outras publicações periódicas. Acabou por conquistar o W. H. Smith Award para o Melhor Livro do Ano. Roth torna-se, assim, em 46 anos de história do prémio, no primeiro escritor a conquistá-lo por duas vezes. Em 2005, vê ainda a sua obra publicada numa colecção completa e definitiva pela Library of America. Ultimamente foram-lhe atribuídos dois dos mais prestigiados prémios do PEN: em 2006, o PEN / Nabokov 'pelo conjunto da obra [...] de originalidade constante e artisticamente perfeita' e, em 2007, o PEN /Saul Bellow de Consagração na Ficção Americana.
Como leitora recomendo: A Mancha Humana (considerado o best-seller do escritor), Animal Selvagem e o seu último livro publicado, a que deu o título de Todo-o-Mundo. Vale a pena deixarmo-nos seduzir por estas páginas que abordam temas universais.O ponto de encontro entre a felicidade e os tormentos (íntimos) da Humanidade.O olhar para dentro da complexidade das relações humanas. Para os mais curiosos, segue-se excerto de entrevista a um dos maiores escritores americanos da actualidade. Enjoy it!

A origem

Todo-o-Mundo é um espaço de encontro de mundos exteriores e interiores. De lugares comuns e encantados.
É inspirado num livro de Phillip Roth com o mesmo nome. A loja do pai da estrela maior deste romance, denominada «Joalharia de Todo-o Mundo» serviu de mote ao baptismo deste blogue, que assume a forma de uma Arca de Noé. Também suscita questões do mundo digital abordadas nas aulas da respectiva disciplina.
Outros universos surgem em forma de pensamento, crítica ou sugestão.
A escolha do verde como mancha predominante é uma forma de prestar homenagem ao planeta de Todo-o-Mundo. Como dizia Hegel, 'a relação imediata é a do todo e das partes' que devemos preservar na casa de todos nós.